Sobre
É no botequim ou na padaria que costumo parar quando preciso desesperadamente registrar alguma reflexão, para que não se perca (como se fosse muito importante. É.)
Nesse momento, dou-me a liberdade de desviar seja de que rumo fôr o rumo em que eu estava, (uma coisa é certa, sempre a pé!), de entrar no primeiro botequim ou primeira padaria que avisto, e parar, beber um café, fumar.
O guardanapo de papel, o papel de pão, uma caneta emprestada, tudo se reveste de súbita nobreza, ou melhor, tudo vejo com súbita nobreza no olhar.
Um brinde, um brinde solitário a tudo que me cerca, às pessoas a entrar e conversar e sair, como se fosse espectador atento e a vida prosaica fosse um filme numa tela escura de cinema.
Nesse momento, o guardanapo de papel começa a ser rabiscado.
( Seria um desperdício não fazê-lo - um desperdício com a vida e com o fluxo das coisas. Porque o não-haver não há1. Non, ou a vã glória de mandar2.)
https://www.revistas.usp.br/cefp/article/download/196007/196708/639024 ↩︎
Non, ou a Vã Glória de Mandar, de Manoel de Oliveira
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