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Lucian Freud, Two Plants, 1977-1980

Lucian Freud, Two Plants, 1977-1980

O mundo mudou de lá pra cá, muito. E eu também, menos do que devia.

Entre outras coisas, não havia smartphones.

Junto vieram as redes sociais, e os dois, smartphones e redes sociais, formaram uma dupla imbatível e inseparável.

Quando ambos davam os primeiros passos, ainda havia um vasto espaço vazio por povoar, um espaço cibernético aberto à aventura, uma praça pública em que podiam pulular manifestações que só não eram mais diversas porque não havia como não espelhar as desigualdades do espaço real que sustentava o cibernético.

Explico: numa praça pública, de concreto, plantas e carne e ossos, qualquer um ainda pode orar, comunicar, discursar, exprimir, encenar, representar, exibir… venha de onde vier, do prédio em frente ou do casebre suburbano a kilômetros de distância dali. O limite material é o dinheiro do transporte, limitação essa que até pode ser contornada, a depender do bom humor do motorista.

Transitar no espaço cibernético exigia um meio de transporte mais elitista e surdo a um pedido de carona: não era qualquer um que dispunha de computador e acesso à Internet.

A diversidade nesse espaço era inversamente proporcional às desigualdades do outro espaço.

Brancos, nerds, homens, de modo geral, falam das mesmas coisas, (um tremendo saco!), e foi uma paisagem branca, nerd e masculina que primeiro povoou o universo virtual.

Era até, convenhamos, um pouco decepcionante para aquele que, curioso por conhecer pela primeira vez a novidade da Internet, se deparava com essa paisagem insossa, nerds em orgasmo, que no mundo real é muito fácil de evitar. Os brancos nerds, desinteressantes, recalcados, impopulares, solitários foram os primeiros a se estabelecer, o que é meio óbvio, considerando o prévio conhecimento e devoção às màquinas e às redes.

⚠️

Aviso desde já que estou aqui a ser preconceituoso, sim, e que os nerds que descrevi são esterótipos e não fazem jus, na realidade, à diversidade que também existe nesse grupo.

Mas é um preconceito que deriva de um elemento que talvez seja comum a todos os integrantes, diversos, desse grupo: o gosto pela tecnologia. Por mais diversos que sejam no seu dia-a-dia, na maior parte das vezes há sempre aquele limite auto-imposto ao olhar, um olhar que vê o mundo a partir da lógica cartesiana da razão instrumental, um olhar, portanto, redutor.

Isso, redutor, era esse o tom (decepcionante).

A aventura era sedutora, mas na maior parte das vezes, o resultado era redutor, um exercício de criação gratuito e limitado.

E não foi por outro motivo que não uma exploração gratuita e pretenciosa que mantive, lá pelos idos de 2010, um blog. Com o objetivo confesso de servir de registro de leituras, anotações, conexões, a partir de leituras do mundo concreto.

Evidentemente que iniciativas como essas refletiam uma limitação do autor já à partida: porque raios colecionar leituras e pensamentos em vez de os colocar em jogo na roda de um bar, num jantar, numa conversa, ou mesmo inseri-los nalguma instituição própria à reflexão?

O ato já nascia marcado pela redução e pelo isolamento, e o risco de cair no ridículo era enorme e certo.

(Cá estamos)

Pensando em retrospecto, o que eu fazia ali de mais interessante eram crônicas a partir de observações da cidade, do país e do mundo.

Na maior parte das vezes, entretanto, limitava-me a republicar conteúdo com breves notas pessoais de introdução.

Reli há dias atrás esse blog, uma leitura crua em formato xml do único backup que descobri recentemente (porque ele não está mais online desde 2012) e, para minha surpresa, gostei de umas duas ou três crônicas, as mais subjetivas e menos marcadas pelos acontecimentos e opiniões (minhas).

Lembrei-me do trabalho que deram e do empenho com que foram paridas, e da sensação boa de terminá-las e vê-las “publicadas”.

Não foi desprazeroso relê-las hoje, mais de dez anos depois.

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Pulo para 2025… agora… um novo blog?

Desta vez, a motivação veio mais influenciada pelo desafio técnico: queria experimentar um site estático.

Mas um site precisa de conteúdo e de forma pouco criativa, ponho-me então a reproduzir instintivamente o modelo do outro blog, de registrar leituras sobre temas que me interessam hoje. (no popular, republicar)

Mas se na época as fontes de conteúdos na Internet não corriam o risco da banalização e do desgaste, e estavam mais escondidas, hoje, com as redes sociais, muito mais facil e rapidamente circulam.

Não faz mais sentido um blog que colete ideas e reflexões sobre algum tema. Eles já foram coletados, circulados e lidos, isso é certo. As redes sociais fazem isso melhor e de forma mais eficaz. (se não fôr por mais nada, basta saber que o conteúdo que já republiquei aqui e o que estava prestes a republicar veio de… redes sociais.)

Então, este blog já nasce morto e, ou ainda há espaço para uma crônica aqui, outra ali, conteúdo inédito, ou arranjo outra coisa para fazer. Pelo menos terei aprendido a colocar no ar um site estático e um bot que anuncie uma nova postagem do site no Mastodon.

A ver.