Simbólico Minguante

Tullio Crali, Prima che si apra il paracadute, 1939
[…] Desintermediação é uma negação da mediação — é o desmantelamento de instituições intermediárias (sejam estruturas estatais ou lojas físicas) que processam, estabilizam ou centralizam o fluxo de dinheiro, informações, serviços e bens, produzindo uma duvidosa “nova economia do ‘compartilhamento’” em seu lugar (34). A desintermediação é um aspecto central da circulação na economia global contemporânea, onde, desde a década de 1970, a produção e o crescimento do valor estagnaram, fazendo com que a circulação de mercadorias, dinheiro e pessoas entrasse em uma sobremarcha compensatória. As principais instâncias do nosso mundo de circulação pesada incluem a logística “just in time”, negociação de alta frequência e tecnologias digitais pessoais como o smartphone. Essas formas de desintermediação produzem uma compressão cada vez maior de espaço e tempo; elas promovem a objetividade e o fluxo como experiências libertadoras para empresas e indivíduos. A proliferação forçada da imediatez vivencial, argumenta Kornbluh, moldou a produção cultural nos níveis de plataforma e forma. Se Ruth Wilson Gilmore chama a estrutura social desintermediada de hoje de um “estado antiestado”, Kornbluh chama sua estética corolária de um “antiestilo”.
[…] Discretização, por sua vez, nomeia o processo pelo qual fenômenos são achatados e separados quando codificados para consumo, prontos para serem adicionados à rolagem infinita de conteúdo. Essa tendência está no cerne do capítulo “Imaginário”, onde Kornbluh, apoiando-se na psicanálise lacaniana, descreve as mudanças psíquicas que uma sociedade desintermediadora e voltada para a circulação produz: ela “gera na cultura um simbólico minguante e um imaginário intensificado” (115). Na visão de Kornbluh, cada vez mais nossa linguagem comum favorece a franqueza de imagens e ícones (servidos a nós por meio de algoritmos e telas) em detrimento da complexidade de palavras e símbolos. Com esse declínio do simbólico, os sujeitos perdem a capacidade de discernir nuances, manter contradições ou se relacionar com os outros de maneiras não simplistas. O que predomina, em vez disso, no relato sombrio, porém sóbrio, de Immediacy, são a imagem e o espetáculo, principalmente entre eles o atraente “eu” do indivíduo, precipitando uma epidemia de narcisismo, depressão e marketing pessoal. Para alguns, essa perspectiva poderia dar a Immediacy um ar rabugento ou conservador, mas tal visão deixaria de explicar o entusiasmo de Kornbluh por alternativas contemporâneas e populares, bem como a exuberância formal de seu próprio estilo crítico.
Referências:
1 - Imagem: https://flic.kr/p/2f4zZA2
2 - Texto: https://www.chicagoreview.org/anna-kornbluh-immediacy-or-the-style-of-too-late-capitalism/